Carta à Minha Mãe
Sobre o amor que nem sempre pode se mostrar, mas insiste em permanecer. Sobre o cuidado que salva, mesmo quando falha. E sobre o milagre de amar para trás, para dentro e para além.

Mãe
Dizer teu nome aqui é abrir a janela da alma para que entre sol, memórias e vivências saudosas.
Você se chama Maria, mas poderia se chamar Amar, Cuidado, Silêncio, Paciência, Espera – ou até mesmo Cansaço, pois sei que cada um desses nomes cabe em você.
Escrevo essa carta para te agradecer – não por tudo, pois isso seria impossível – mas por tanto. E ao te agradecer, quero também abraçar, através de você, todas as mães que carregam o mundo no colo e quase sempre ninguém repara.
A maternidade sempre me pareceu esse enigma de doação que começa no corpo e se estende por todos os sentidos, e por uma vida inteira. É entrega que não tem volta, e muitas vezes tem como retorno a ingratidão. É uma espécie de amor que, de tão grande, quase desaparece aos olhos de quem só vê o óbvio. Mas eu vi, mãe. Juro que vi. Eu vi você abrindo mão de si para que eu pudesse me encontrar. Vi seu olhar quieto escondendo o medo só para que eu me sentisse segura. Vi suas forças nos dias em que você não pode fraquejar. E vi sua fraqueza nos raros momentos em que o mundo pesou demais – e foi aí que eu te amei mais ainda.
Você me ensinou que amar não é estar sempre certa, nem sempre forte, mas sempre presente. E mesmo nos silêncios, nos gestos miúdos, nas preocupações que você nunca nomeava, havia ali um cuidado que gritava amor... do seu jeito.
Hoje, com um pouco mais de estrada, percebo o quanto fui amada por uma mulher que muitas vezes se esqueceu de si. E percebo também o quanto essa ausência de si é parte da dor que tantas mães carregam em silêncio, pelos filhos que levam esses pedaços e não retornam para trazê-los de volta. Muitas vezes o amor de mãe se dá na ausência, na espera que nunca se esgota, no vazio de um filho que foi embora, que se perdeu no tempo... que não retorna... que não vem... Ahhh! Maldita espera!
E, ainda assim, mãe, você segue com esse amor inabalável, com essa esperança infinita, que não precisa de presença para existir, que resisti ao silêncio e a distância. Pois é assim que o coração de mãe bate: sempre disposto a acolher, mesmo quando só tem um eco no lugar da resposta.
Por isso, quero nesta carta dizer a você, Maria, e a todas as mães que por vezes se anulam para fazer crescer: vocês também merecem voltar para si. Também merecem colo. Também merecem ser vistas como mulheres inteiras – antes, durante e além da maternidade.
Ser mãe é milagre. Mas, ser mulher depois de tantos papéis é ressurreição.
Queria que soubesse, mãe, que tudo em mim carrega sua marca – o jeito de amar, de escutar, de cuidar dos outros, de aguentar firme e, às vezes, de chorar escondido.
Hoje, neste dia das mães, não te trago flores. Te trago palavras. Que elas sejam como um abraço demorado, daqueles que você me dava sem pressa, com cheiro de café fresco e travesseiro limpo.
E que, onde quer que essa carta toque, alguma mãe se sinta acolhida, reconhecida, lembrada. Que entenda que não precisa ser perfeita – só precisa ser de verdade.
Obrigada por ter sido. Por ainda ser. E por, tantas vezes, ser mesmo quando já não podia.
Com amor e reverência,
Beatriz Melara
COMPANHIA NO DIVÃ - Bia Melara
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