Carta ao Labor da Alma
Porque há trabalhos que não se veem, mas sustentam o mundo por dentro.

Você que labuta na alma do outro – e você que tem a coragem de olhar para dentro da própria – essa carta é para os dois.
É para quem se oferece como espelho, e para quem ousa se encarar.
É para quem cuida, e para quem se permite cuidar-se.
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Querido(a) trabalhador(a) do invisível
Há trabalhos que não aparecem na carteira. Não tem ponto a bater, nem hora extra, nem folga aos domingos. São silenciosos, contínuos, e exigem coragem.
Falo do trabalho que acontece por dentro. Dentro do outro, quando se escuta com presença. Dentro de si, quando se decide não fugir.
Esse é o trabalho das almas que se encontram em análise, em terapia, em escuta mútua. É um trabalho de artesãos e de argila, de mãos que moldam e de matéria que se deixa moldar.
Você que sustenta o outro nos seus abismos, e você, que mergulha nos próprios – ambos carregam no peito o peso e o milagre da transformação.
Porque não é simples se olhar sem filtros. Não é fácil tocar as próprias feridas. Não é leve descer aos porões da alma em busca do que foi esquecido. Mas há uma beleza rara em quem escolhe esse caminho.
Quem se entrega a esse trabalho interno sabe: há dias de cansaço profundo, dias de dúvida, de silêncio, de querer desistir. Mas segue. Porque também sabe que esse é o único caminho possível para reencontrar-se.
Esse labor não tem diploma, mas revela mestres. Não tem salário, mas rende libertações. Não dá status, mas oferece a inteireza.
É preciso muita força para permanecer nesse caminho. Força para encarar a dor que se evitou a vida toda. Força para rever escolhas, repensar certezas, refazer rotas.
E é por isso que hoje eu escrevo. Para agradecer não só a quem escuta, acolhe e sustenta. Mas também – e principalmente – a quem se permite atravessar o processo, a quem aceita descer os degraus da alma, a quem topa o árduo oficio de ser de verdade.
Porque esse trabalho, feito de dentro, é o que muda o mundo.
Uma alma que se transforma, transforma tudo ao redor.
E isso, para mim, é o que há de mais belo, mais digno e mais sagrado. Isso é sobre o meu trabalho!
Com reverência, com reconhecimento e gratidão,
De uma alma que também labuta, e se emociona com cada encontro verdadeiro.
COMPANHIA NO DIVÃ - Bia Melara
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