Carta às Minhas Certezas
Hoje vamos refletir sobre as certezas, que nos trazem tanta segurança e ao mesmo tempo peso e limitações.

Há tanto tempo vocês caminham ao meu lado, silenciosas, mas imponentes. Foram abrigo quando a tempestade se aproximou, quando o desconhecido assombrou meus passos trêmulos. Vocês me deram nome e forma, me disseram que eu era e para onde eu deveria ir. E eu, em minha sede de estabilidade, me agarrei a vocês com a força de quem teme o vazio.
Vocês eram rochas em um mar de incertezas, e eu me aninhei nelas, acreditando que a rigidez era o único caminho para sobreviver. Com vocês o desconhecido parecia menor...menos ameaçador, e o amanhã já não assustava tanto. Mas, pouco a pouco fui descobrindo que há um preço a se pagar por toda âncora: a imobilidade.
Nem todas vocês me fizeram bem. Algumas, com o peso de suas verdades absolutas, me impediram de enxergar além. O que antes era um abrigo se tornou uma prisão invisível, onde o novo batia à porta, mas eu, envolta em vocês, minhas certezas, hesitava em abrir. Vocês me protegeram, é verdade, mas também me esconderam do mundo inconstante, que muda, que cresce, que respira para além dos meus limites.
Hoje, escrevo para reconhecer sua presença, mas também para questioná-la. Quantas de vocês ainda me servem? Quantas já se tornaram muros onde deveriam haver janelas? O tempo me ensinou que há uma beleza no não saber, um espaço fértil nas duvidas que me permite florescer. E vocês que já foram tudo, agora são apenas uma parte.
Há certeza que ainda guardo com carinho: o amor que escolhi sentir, as verdades que carrego em meu ser, o caminho que trilhei até aqui. Mas tantas outras, eu deixo partir. Porque já aprendi que a vida não se acomoda em certezas rígidas; ela se move na inconstância, no vento que balança, nas margens indefinidas onde novos horizontes se desenham.
E assim, ao me despedir de vocês, deixo um espaço em mim para o desconhecido, para o incerto. Que ele chegue suave, sem pressa, como quem convida ao movimento...me tire para dançar. E que eu, livre das correntes, possa bailar com o adorável imprevisível.
Com gratidão e leveza,
Eu
COMPANHIA NO DIVÃ - Bia Melara
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