Carta às Muitas de Mim: Da Mulher Que Me Tornei A Todas Que Fui

Uma maneira de conectar-me com minha própria trajetória, honrando as diferentes fases e transformações que vivi.

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Carta às Muitas de Mim: Da Mulher Que Me Tornei A Todas Que Fui

 

Queridas mulheres que já habitaram este corpo e esta alma,

Escrevo a vocês, cada uma com sua história, sua força e suas fragilidades. Em cada etapa, uma de vocês tomou a frente, vivendo, sonhando e, às vezes, sofrendo por todas as outras. Hoje, ao olhar para trás, vejo um rastro de passos, como se eu tivesse habitado múltiplas vidas dentro de uma só.

À menina que fui, agradeço a curiosidade. Seu olhar puro me fez ver o mundo com encantamento, como se tudo fosse possível. Você me deu a capacidade de sonhar, de querer para além do que meus olhos viam. E a coragem, tão ingênua e tão brava, que me impulsionou a explorar até os cantos mais escuros da vida.

À adolescente, escrevo com ternura. Sei que você carregou o peso de um mundo confuso, onde as certezas eram poucas e as perguntas, muitas. Sua intensidade foi minha bússola, mesmo quando pareciam tempestades. Suas dores moldaram minha pele, e sua vontade de encontrar respostas me ensinou a ter paciência com o desconhecido.

À jovem que acreditava no amor eterno, deixo meu carinho e minha saudade. Obrigada por se entregar, por acreditar nas pessoas e nas promessas. Foram suas paixões e decepções que me deram asas e cicatrizes, ensinando-me que o amor tem muitos rostos e, às vezes, a maior prova de afeto é saber partir. 

À mulher adulta, tantas vezes silenciada pelas próprias responsabilidades, deixo meu respeito. Você carregou o mundo nos ombros, cuidou de sonhos alheios e esqueceu-se de si mesma. Com você aprendi que o cuidado e a força podem ser exaustivos, mas também que é preciso lembrar-se de cuidar de quem cuida.

E não poderia esquecer a mulher que se dividiu em duas ao dar vida. Quando você, já cheia de histórias, se tornou mãe, vi nascer em ti uma nova mulher – e também uma menina, um reflexo doce e intenso de tudo o que você é e ainda será. Dividir-se para multiplicar o amor foi um ato corajoso e apaixonado, um renascimento que exigiu uma entrega absoluta, mesmo quando se descobriu tão vulnerável. Essa outra mulher, que carregou no colo uma parte de si e ainda assim encontrou espaço para ser mais do que antes, ensinou-me sobre a força delicadeza. Foi ela que, ao se enxergar nos olhos da filha, entendeu que amar é se perder e se reencontrar infinitas vezes.

Agora, eu, a mulher que hoje escreve, sei que em cada uma de vocês existe uma verdade, uma parte de minha própria essência que jamais desapareceu. Trago suas memórias comigo, mas não mais como pesos – são fios que tecem minha própria história.

Vocês não foram perfeitas, nem precisavam ser. Foram necessárias. E, assim como vocês, continuo a me transformar, levando comigo a coragem, o encanto, as respostas e os aprendizados. Aguardo, sem mais medo, as mulheres que ainda serei, e que em cada fase futura eu possa olhar para trás com o mesmo afeto com que escrevo hoje.

Com muito amor e gratidão,

Eu.

 

COMPANHIA NO DIVÃ - Bia Melara

 

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